Entrevista Rui Muleque para SDA

Estamos dando início a uma série de entrevistas com nomes importantes do skate nacional e quem sabe, mundial. Nosso intuito é resgatar a bela história do skate, que é mais que um esporte, é um estilo de vida.
 
Entrevistei um dos maiores e mais carismáticos nomes do skate nacional. Ao trabalhar no mercado de skate, tenho o privilégio de ter contato com esses grandes nomes. Privilégio maior em transformar contatos profissionais em grandes amigos. É o caso dele. Além de ser um dos maiores nomes do street nacional, continua andando de skate, tem um carisma ímpar e fãs por todo o país. Com vocês, Rui Muleque!
Como foi seu início no skate Rui?
Comecei a andar de skate por causa do meu irmão, ele trocou um tênis por um skate, mas ele ia trampar e eu pegava o skate escondido. Era um skate top para a época shape DM de fibra, trucks Costa Norte e rodas Road Rider com rolamentos (época dos skates Bandeirantes e Nakano que eram com bilhas).
 
Foi difícil conseguir Patrocínio?
Diferente do que a garotada imagina, patrocínio é consequência do que você faz dos seus esforços. Ele vem até você. Você tem que se preocupar em andar bem, participar dos eventos e tentar se destacar de alguma forma. Aí quando vc menos espera, vem alguém lhe oferecer um patrocínio. Comigo foi assim. Patrocínio não se pede, se ganha.
 
Em que momento você percebeu que o skate estava ficando sério e decidiu virar profissional?
Comecei a andar de skate como um brinquedo no inicio de 1982. Uns seis meses depois descobri que era um esporte, que tinha pistas e manobras.
Íamos para Jundiaí, a galera da Leopoldina em São Paulo (Doninha, Orelha, Podão, Richard, Julio, Tadeu). Andávamos de manhã até à tarde, às 15h quando o sol abaixava, chegavam os prós (Curió, Marcola da Caos, Sergio Negão, Marreta que dava um rolê de bike, etc). Sentávamos à beira do Bowl e assistíamos de boca aberta a sessão.
Em 1983 descobrimos Guará, íamos uma vez por mês (sempre após o pagamento), era o point, skatistas de vários lugares do Brasil se encontravam. Galera do Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, etc. Nesta época eu já sabia que o skate estaria em minha vida para sempre.
Em 1986, a convite do Mauro e Lecuk entrei na Lifestyle, uma pequena estamparia que fazia camisetas com tema de skate. Logo começaram a fazer experimentos de madeira e resina epoxi para produzir shapes de skate (método usado até hoje). O model Muleque (do estilingue) foi o primeiro shape resinado do Brasil (resina epoxi).
 

Foto acervo pessoal Rui Muleque
 
 
Como foi sair do Brasil a primeira vez e competir com os gringos? Em que ano foi isso?
É muito louco no esporte, porque as coisas demoram a acontecer, mas quando começa, é tudo muito rápido. Tive meu primeiro model em 1987, em 1988 me tornei profissional. O skate estava em alta no Brasil e eu fazia parte da Lifestyle uma das equipes de maior prestigio no esporte. Entramos 1989 com muito otimismo, o skate se estruturando e consolidando como o esporte das massas. Televisões, jornais rádios, todos queriam divulgar o esporte que estava contagiando os adolescentes.
Foi instituído o circuito UBS com 03 etapas – Guaratinguetá, Pirassununga e São Paulo (no ginásio do Pacaembu).
No meio do circuito surgiu a oportunidade de ir para o mundial da Alemanha onde participariam os principais atletas americanos.
Foi um sonho que até então parecia distante das mentes dos skatistas brasileiros. 
 
Como eram tratados os brasileiros lá fora quando você foi?
Chegamos à Alemanha sem saber o que encontrar. Quando entramos na área de street, a galera ficou pasma!  Os obstáculos eram enormes, havia um corner com mais de 4 metros de altura, dois só de 90º  e o spine com corrimão era um palco de 2 metros de altura.
Comecei a andar sem me importar com quem estava na área, uma hora trombava com Tony Hawk, outra hora era o Ray Barbee, cortava a frente de Matt Hensley, e assim ia me encontrando nos obstáculos que não eram nada parecidos com que estávamos acostumados aqui.
Cheguei a receber elogios de Ron Allen, só entendi (Very Good Skater) e aplausos de Tony Hawk quando descia o corrimão.
Montei a linha e fiquei aguardando… A falta do inglês e experiência em eventos fora do Brasil determinou o resultado que poderia ter sido diferente.
Estava com o Beto or Die assistindo os gringos correr, foi quando o ele me disse “acho que falaram seu nome”. Imagina, disse eu, essa nem é nossa bateria. Foi quando ouvi: “Rui Muleque, brasilian skater, one minute”. Saí correndo pra dentro da área que nem louco, errei metade da minha linha,  ainda sim, fiquei em 18º lugar entre 60 competidores, foi uma boa colocação, mas poderia ter sido melhor.
Quanto ao boicote dos gringos, quem mais sentiu, foi o pessoal do vert. Havia brasileiros patrocinados por marcas chupadas tais como Sims, Tracker, Bones, etc.
Os Americanos sabendo disso começaram a cortar a vez dos brazucas e chegaram até a apagar a luz do ginásio na bateria dos brasileiros, a pressão foi grande, mas no final tivemos o Lincoln Ueda em quarto lugar que abriu as portas para o reconhecimento do skate brasileiro. Foi uma festa!
  

Foto acervo pessoal Rui Muleque
 
 
Fale sobre sua skateshop em Ribeirão Preto.
Em 1989 me sagrei campeão brasileiro. Participei do Mundial da Alemanha e fiz uma turnê de dois meses em Portugal. Fechei o ano com chave de ouro.
Entrei 1990 achando que seria o meu ano. Poder desfrutar do titulo e quem sabe, conhecer a Califórnia.
Não foi nem de perto, do jeito que eu imaginava…  Em abril o então Presidente da Republica, Fernando Collor de Melo, decreta o Plano Collor, um pacote concessões que tiraria toda a liquidez do mercado, bloqueando o dinheiro do povo brasileiro por dois anos.
Da noite para o dia o mercado desabou. As marcas já não tinham dinheiro para manter seus atletas, não havia mais campeonatos, demos ou qualquer atividade de skate.   Os profissionais tiveram que correr atrás de outros empregos. Em meio a esse turbilhão, com a ajuda do Mauro e Lecuk da Lifestyle, fui pra Ribeirão Preto abrir minha primeira loja. Fiquei por nove anos com loja de skate, promovendo eventos, patrocinando atletas e trabalhando o mercado.
Foto acervo pessoal Rui Muleque
 
 
O que o Rui Muleque faz hoje em dia?
O mesmo que fazia nos anos 90. Hoje trabalho na Switch Skate Shop com o Toninho.  Ajudo a gerenciar a loja, e trabalhamos com eventos de skate, boa parte, em parceria com as unidades do Sesc em todo o estado.
 
Como você vê o Skate hoje no Brasil?
Hoje vivemos outra realidade. O skate brasileiro está consolidado, temos pistas pra todo lado (nem todas são boas, mas de qualquer forma ajuda a manter o esporte vivo) e nosso skate é reconhecido mundialmente, com vários atletas de alto nível e títulos mundiais.
Apesar da crise que passamos, o nosso esporte não corre o risco de acabar, pois ao longo desses anos, desde a década de 80 ele vem se fortalecendo com um mercado hoje estruturado.
 
Sabemos que você continua andando de skate, com que frequência?
Muito menos do que gostaria, mas pelo menos uma vez por semana eu ando. Agora só em banks e miniramps. Street já não dá mais.
 
Rui, o Skate das Antigas foi criado com o intuito de resgatar a história do nosso skate, mostrar para as novas gerações quem foram vocês, o que rolou no passado. Como você vê isso e a importância do Skate das Antigas?
Se vc não tem história, não tem referência, se hoje vivemos um bom momento no esporte, saiba que alguém penou lá atrás para abrir as portas. Skate das Antigas é mais que um site ou page no Facebook, é um lugar onde se registra e documenta a historia de nosso esporte.
 
Para finalizar, deixe um recado para a nova geração e para os fãs do Rui Muleque.

Para a nova geração: Ande por prazer e se dedique, corra atrás de seus sonhos. Aos fãs, só tenho a agradecer, pois sem vocês eu não existiria hoje.

Foto acervo pessoal Rui Muleque
 

4 thoughts on “Entrevista Rui Muleque para SDA

  1. aliocha says:

    OOOOOOOOOOOOOOOOOrrrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaa que top… Rui Muleque. Thron, Fernandinho Batman… Cupin… saudades dessa época

  2. renatinhusfingerboard says:

    Rs me lembro do shape míni model….com o seu personagem flutuando com chiclete…

  3. Douglas Nogueira antunes says:

    Rui firmeza que Deus sempre te abençoe vc pra minha cidade foi o melhor e sempre vai ser claro que todos vai querer ser esse skatista te peço pro meu filho estou desempregado o skate do meu filho quebrou não tenho dinheiro pra da outro pra ele

  4. Paulo Aquino says:

    Voltando no tempo, rsss…
    Final da década de 80, começo de 90, morava em frente ao banco Itaú ( Brigadeiro Luiz Antônio), onde ficávamos direto andando de skate no local. Lembro um dia em que o Rui Muleque, na maior humildade,foi andar lá na cia do Beto or Die,que era morador da BV. Neste dia a Praça Roosevelt mudou de endereço e invadiu a garagem subterrânea do banco rsss.
    Tinha o privilégio de ver essas feras andar na Praça Roosevelt, mas aquele dia foi marcante, pois do nada aparece tanta gente e invade onde na época era nosso local. Nunca mais esqueci e conto até hj para amigos e filhos que naquele dia, andei com “os pró…

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